terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A última dança

Eu não quereria que a noite tivesse terminado das duas formas.
Tão diferentes, tão homônimas, tão repentinas.
Entre mãos, beijos, sorrisos e a não despedida, eu quis que você ficasse.
As chances eram tão pequenas como a cabeça de um alfinete. Tão finas, tão frágeis, mas que dóem com a profundidade de uma estaca.
O beijo de lábios sedosos aliado com a respiração ofegante me fazia sorrir por dentro. Sua pele suada me fazia ter contato com teu interior que vinha para fora de forma quente, sem cheiro, refrescante. Era o meu contato contigo. Era tato.
Não, não me venha com promessas falsas!
Apenas me levante com a leveza de uma pluma e me faça ver além, pois eu consigo tal proeza. Do abraço de corpo forte de gola pólo negra ao encontro inesperado, eu não sei o que surpreendia mais.
Talvez fosse a música ardendo, pulsando meu coração que não batia mais. Ou então, fosse meu coração fazendo pulsar o espaço lotado de almas aflitas, libidinosas e alcoolizadas que buscavam a redenção.
Era o (f)ato que fazia toda a diferença.
Teu nome me pegou como uma flecha na jugular, pois o coração não mais doía. Doía a garganta de choro preso e amígdalas geladas de bebida. Eu queria gritar, mas como podia? Ninguém ouviria.
Estavam todos preocupados em pecar e serem perdoados na manhã seguinte ao fumar um cigarro descabelados, com ressaca e cheirando a sexo.

Sua língua, percorrendo meu pomo-de-adão, vinha me purificando como Maria Madalena. Contigo, descobri que não havia pecado, pois o que antes achei que fosse pecado, era ruim. Contigo, era bom. E aprendi desde criança que pecar era ruim. Contigo, nada era ruim. Estava de alma lavada com teu suor e com saliva doce nos lábios róseos.
Seria crucificado? Carregaria a cruz de pecar e gostar? Era a punição justa.

Eu rodava de olhos cerrados, sentindo tua mão me acompanhar em um encaixe perfeito de dois estranhos, alinhados em uma perfeita sincronia recentemente descoberta.
A última dança chegou.
E não houve aplausos.
Nem adeus.