Clarice escreveu: Amor é a grande desilusão de tudo mais/Amor é finalmente a pobreza/.../É a desilusão do que se pensava que era amor.
Henry Miller, anos antes, disse que o amor era a mais doce e mais amarga das tristezas que se pode sentir. É a fome, a solidão que precede a iniciação. Ele dizia que o amor era como uma linda maçã vermelha com um verme em seu interior que, vagarosamente, vai devorando a maçã, até não restar nada além do verme. Era o consumo do amor em si mesmo. O amor que também nos consome, como um verme.
Nelson Rodrigues dizia que devia se escolher: ser feliz ou amar. As duas coisas ao mesmo tempo era impossível.
Por que todo esse drama existencialista ao redor do amor? É tão paradoxal assim? Seria ele um anjo mau, que crava suas unhas em nossas entranhas e nos vicia ao ardermos de prazer?
Há algo no amor que vejo como uma mordida de vampiro. Aquela coisa intensa, quente, irresistível, que dilacera, dói, mas sempre queremos mais.
Não se engane. Todos sofremos por amor.
Assim como eu vejo o sono e a morte como duas coisas que são capazes de derrubar qualquer ser humano, o amor vem como o terceiro elemento vital de qualquer pessoa.
Se você não sofreu, chegará sua vez.
Se já sofreu, sabe do que estou falando. A dor diferente das outras.
A dor física do peito, da saudade que clama pela presença, do corpo que pede o beijo.
A dor mental que faz com que você imagine o que o amado está fazendo, o que está passando, o que está sentindo e, muitas vezes, não poder acompanhar. O desconhecimento da rotina, o ciúme pelo que muitas vezes não existe, mas nossa mais insana imaginação é capaz de criar e depositar cenas em nossa mente.
A dor espiritual do carinho, das afinidades trocadas, de que você está certo que quer passar o resto dos seus dias ao lado daquele ser humano feito de carne, osso e pedaços seus guardados em algum lugar que te faz pulsar e levantar diariamente.
O amor dói. Seja por abdicar dele, pela perda, pela saudade ou simplesmente por amar demais. Mede-se o amor? Ama-se mais, ama-se menos, ama-se diferente? Ou o amor é uníssono, funcionando como uma pequena orquestra, em que todas as emoções se unem e formam a sinfonia perfeita?
Será necessário explicar o amor ou deve-se apenas entregar-se ao que, para mim, é o mais nobre dos sentimentos do mundo?
Em seu livro, Fim de Caso, Graham Greene coloca no amor de duas pessoas o ciúme doentio, em que ele despede-se da amada, enquanto ela veste uma meia e diz: Eu queria ser essa meia. Eu tenho ciúmes dessa meia, pois ela estará contigo enquanto eu não vou estar durante o resto desse dia.
O amor vence tudo? Esquece-se um grande amor? É destino? Amor e ódio caminham juntos? Enlouquece-se de amor?
Nesse mesmo livro - que se passa durante a Segunda Guerra Mundial - o local em que os dois amantes estavam é bombardeado. No desespero das ruínas, ela o encontra aparentemente morto. Num ato impensado, ela pede a Deus para fazê-lo viver dando em troca o fim do caso que tinham. Neste momento, ele abre os olhos, pois sobreviveu ao ataque. O que fazer: ignorar a promessa ou levar adiante seu pedido a Deus, vindo de uma mulher religiosa?
Destino?
Lembro-me de uma vez estar sentado ao lado de duas garotas desconhecidas. Elas contavam a história de um tio que havia vivido um belo amor, mas precisou mudar de Estado e nunca mais reviu sua antiga amante. Soube-se que haviam se casado com outras pessoas, porém nunca haviam esquecido um do outro. Ela foi abandonada pelo marido anos depois e ele ficou viúvo. Então, 15 anos depois, andando pelo Viaduto do Chá em São Paulo, entre milhares de pessoas que circulam diariamente naquela malha humana, ele tromba com uma mulher. Quando vira-se para pedir desculpa, reconhece que era ela, ali, na sua frente. Ela, que ele amou por mais de uma década. Sim, destino existe. Chamar de coincidência é reduzir a restos uma história como essa.
Esquece-se um amor? Nelson Rodrigues (de novo!), se não me engano, dizia que o amor verdadeiro não morre. Ele, que escrevia sobre a sordidez humana, a carne, a traição, a derrota, também sabia amar como qualquer ser humano.
Lembro-me da história de uma amiga, que me contou sobre um amor que houve em sua família.
Quando ainda era necessário casar as filhas mais velhas para que depois as mais novas pudessem desposar, ele apaixonou-se pela caçula. A mais velha, solteira, precisava ser desposada primeiro. Ele, então, casou-se com a mais velha sem amor. Foi fiel durante toda a vida da esposa apenas para ficar perto da mulher que amava. A mais nova, enquanto isso, permaneceu solteira até o dia em que sua irmã veio a falecer. Ela, então, muitos anos depois, casou-se com seu grande amor: o viúvo de sua irmã.Histórias como essa não saem somente de livros, pois seus autores precisam tirar da vida sua inspiração, a vida que transpira amor e ódio sabe que sua poesia jamais será deixada de lado.
Henry Miller, anos antes, disse que o amor era a mais doce e mais amarga das tristezas que se pode sentir. É a fome, a solidão que precede a iniciação. Ele dizia que o amor era como uma linda maçã vermelha com um verme em seu interior que, vagarosamente, vai devorando a maçã, até não restar nada além do verme. Era o consumo do amor em si mesmo. O amor que também nos consome, como um verme.
Nelson Rodrigues dizia que devia se escolher: ser feliz ou amar. As duas coisas ao mesmo tempo era impossível.
Por que todo esse drama existencialista ao redor do amor? É tão paradoxal assim? Seria ele um anjo mau, que crava suas unhas em nossas entranhas e nos vicia ao ardermos de prazer?
Há algo no amor que vejo como uma mordida de vampiro. Aquela coisa intensa, quente, irresistível, que dilacera, dói, mas sempre queremos mais.
Não se engane. Todos sofremos por amor.
Assim como eu vejo o sono e a morte como duas coisas que são capazes de derrubar qualquer ser humano, o amor vem como o terceiro elemento vital de qualquer pessoa.
Se você não sofreu, chegará sua vez.
Se já sofreu, sabe do que estou falando. A dor diferente das outras.
A dor física do peito, da saudade que clama pela presença, do corpo que pede o beijo.
A dor mental que faz com que você imagine o que o amado está fazendo, o que está passando, o que está sentindo e, muitas vezes, não poder acompanhar. O desconhecimento da rotina, o ciúme pelo que muitas vezes não existe, mas nossa mais insana imaginação é capaz de criar e depositar cenas em nossa mente.
A dor espiritual do carinho, das afinidades trocadas, de que você está certo que quer passar o resto dos seus dias ao lado daquele ser humano feito de carne, osso e pedaços seus guardados em algum lugar que te faz pulsar e levantar diariamente.
O amor dói. Seja por abdicar dele, pela perda, pela saudade ou simplesmente por amar demais. Mede-se o amor? Ama-se mais, ama-se menos, ama-se diferente? Ou o amor é uníssono, funcionando como uma pequena orquestra, em que todas as emoções se unem e formam a sinfonia perfeita?
Será necessário explicar o amor ou deve-se apenas entregar-se ao que, para mim, é o mais nobre dos sentimentos do mundo?
Em seu livro, Fim de Caso, Graham Greene coloca no amor de duas pessoas o ciúme doentio, em que ele despede-se da amada, enquanto ela veste uma meia e diz: Eu queria ser essa meia. Eu tenho ciúmes dessa meia, pois ela estará contigo enquanto eu não vou estar durante o resto desse dia.
O amor vence tudo? Esquece-se um grande amor? É destino? Amor e ódio caminham juntos? Enlouquece-se de amor?
Nesse mesmo livro - que se passa durante a Segunda Guerra Mundial - o local em que os dois amantes estavam é bombardeado. No desespero das ruínas, ela o encontra aparentemente morto. Num ato impensado, ela pede a Deus para fazê-lo viver dando em troca o fim do caso que tinham. Neste momento, ele abre os olhos, pois sobreviveu ao ataque. O que fazer: ignorar a promessa ou levar adiante seu pedido a Deus, vindo de uma mulher religiosa?
Destino?
Lembro-me de uma vez estar sentado ao lado de duas garotas desconhecidas. Elas contavam a história de um tio que havia vivido um belo amor, mas precisou mudar de Estado e nunca mais reviu sua antiga amante. Soube-se que haviam se casado com outras pessoas, porém nunca haviam esquecido um do outro. Ela foi abandonada pelo marido anos depois e ele ficou viúvo. Então, 15 anos depois, andando pelo Viaduto do Chá em São Paulo, entre milhares de pessoas que circulam diariamente naquela malha humana, ele tromba com uma mulher. Quando vira-se para pedir desculpa, reconhece que era ela, ali, na sua frente. Ela, que ele amou por mais de uma década. Sim, destino existe. Chamar de coincidência é reduzir a restos uma história como essa.
Esquece-se um amor? Nelson Rodrigues (de novo!), se não me engano, dizia que o amor verdadeiro não morre. Ele, que escrevia sobre a sordidez humana, a carne, a traição, a derrota, também sabia amar como qualquer ser humano.
Lembro-me da história de uma amiga, que me contou sobre um amor que houve em sua família.
Quando ainda era necessário casar as filhas mais velhas para que depois as mais novas pudessem desposar, ele apaixonou-se pela caçula. A mais velha, solteira, precisava ser desposada primeiro. Ele, então, casou-se com a mais velha sem amor. Foi fiel durante toda a vida da esposa apenas para ficar perto da mulher que amava. A mais nova, enquanto isso, permaneceu solteira até o dia em que sua irmã veio a falecer. Ela, então, muitos anos depois, casou-se com seu grande amor: o viúvo de sua irmã.Histórias como essa não saem somente de livros, pois seus autores precisam tirar da vida sua inspiração, a vida que transpira amor e ódio sabe que sua poesia jamais será deixada de lado.
Assim como aquela popular estória sobre os sentimentos que brincavam de esconde-esconde. Cada tipo de sentimento escondeu-se em um local característico e quem estava a cargo de procurá-los era a Loucura. O Amor não sabia onde esconder-se, até que optou pelo interior de uma rosa. A Loucura, em todo seu desespero, ainda não havia encontrado o Amor e, louca como sempre, passava as mãos rapidamente pelos jardins buscando o sentimento que faltava. Nesse momento, ela ouve um grito de dor. Havia ferido o Amor nos olhos com os espinhos de uma das flores que ela tirava de seu caminho. Chorando, a Loucura pediu desculpas, gritou, clamou pelo perdão. Dizem que, desde esse dia, o Amor é cego e a Loucura o acompanha.
Isso me faz lembrar de uma mulher que eu via constantemente quando eu era mais novo. Eu ficava observando-a. Moradora de rua, ela passava pelos carros pedindo dinheiro. No rosto, crostas de maquiagem suja deixava seu rosto com uma aparência medonha e triste. Podia-se ver tristeza em seus olhos de sombras e rímel multicoloridos, formando um rosto de pierrot. Não insistia pela esmola. Se você não desse, ela ia embora, sempre com vestidos rotos e os cabelos sebosos em um coque malfeito. Muitas pessoas riem da loucura, caçoam dos desequilibrados, coisa que eu abomino. A loucura é triste, é solitária, é desumana. É ser um estranho nesse mundo, pois você cria o seu mundo em que ninguém mais faz parte. Nenhum louco cria um mundo igual ao outro. A loucura me assusta, pois a nossa mente é capaz de criar coisas que nos surpreendem. Até mesmo um amor que você jamais imaginou existir. Aquela pessoa que você despreza ou aquela pessoa que você conhece durante toda uma vida e, de repente, começa a enxergá-la de uma forma que jamais imaginou.
Dizem que a mente controla o corpo, mas eu acho que ela é capaz de controlar até a si mesma. Enlouquecer é apenas uma questão de perder-se de algo e não encontrar-se mais. Quantas pessoas sentem-se perdidas hoje em dia, criando seus mundos paradisíacos ou infernais? Estamos a um passo da insanidade?
Para a mulher de rosto de pierrot e coque desgrenhado, sua loucura firmou morada no dia em que foi abandonada pelo homem que amava no dia do casamento.
Isso me faz lembrar de uma mulher que eu via constantemente quando eu era mais novo. Eu ficava observando-a. Moradora de rua, ela passava pelos carros pedindo dinheiro. No rosto, crostas de maquiagem suja deixava seu rosto com uma aparência medonha e triste. Podia-se ver tristeza em seus olhos de sombras e rímel multicoloridos, formando um rosto de pierrot. Não insistia pela esmola. Se você não desse, ela ia embora, sempre com vestidos rotos e os cabelos sebosos em um coque malfeito. Muitas pessoas riem da loucura, caçoam dos desequilibrados, coisa que eu abomino. A loucura é triste, é solitária, é desumana. É ser um estranho nesse mundo, pois você cria o seu mundo em que ninguém mais faz parte. Nenhum louco cria um mundo igual ao outro. A loucura me assusta, pois a nossa mente é capaz de criar coisas que nos surpreendem. Até mesmo um amor que você jamais imaginou existir. Aquela pessoa que você despreza ou aquela pessoa que você conhece durante toda uma vida e, de repente, começa a enxergá-la de uma forma que jamais imaginou.
Dizem que a mente controla o corpo, mas eu acho que ela é capaz de controlar até a si mesma. Enlouquecer é apenas uma questão de perder-se de algo e não encontrar-se mais. Quantas pessoas sentem-se perdidas hoje em dia, criando seus mundos paradisíacos ou infernais? Estamos a um passo da insanidade?
Para a mulher de rosto de pierrot e coque desgrenhado, sua loucura firmou morada no dia em que foi abandonada pelo homem que amava no dia do casamento.