quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Inventividade libidinosa

No processo para quem para de fumar, tudo se torna mais complexo. Os nervos à flor da pele, a necessidade que teimamos em não ter, a abstinência que faz tremer, doer cabeça, tronco e membros. 
Numa noite comum como hoje, em meros minutos frente ao computador – visto que diante dele sinto incontrolável vontade de fumar – começo a ouvir duas músicas. A primeira delas,
Uma noite e meia, com Marina Lima e Cláudio Zoli, me relembra uma época do primeiro amor, do primeiro sexo, do primeiro beijo, do primeiro orgasmo, tudo se misturou na canção em uma viagem no final do relacionamento. Um ano sem cansar do corpo, do gosto do suor, da saliva de gosto de melancia.
A letra...

O dia inteiro de prazer / Tudo que quiser, vou te dar / O mundo inteiro aos seus pés / Só prá poder te amar

...é uma mistura de sexo proibido, de noites incansáveis, em que um corpo descobre o outro a cada milímetro, a cada nova mordida, a cada novo pelo com pelo.
Eu senti o calor subir calmamente pelas minhas ventas, quase como o resultado de uma bebida, uma tequila que desce quente pela garganta e sobe fervendo direto para o cérebro. Aí, na minha mais “brilhante” das idéias, decidi colocar outra canção.
Menino do Rio, de Baby do Brasil. Essa certa rima cantora/canção fez com que eu sentisse como se uma garrafa de Jose Cuervo tivesse sido virada com um funil pela minha goela.

Rodrigo era o nome dele. Carioca. Tatuagem no braço. Não, não era um dragão, mas era um menino vadio. Quase tudo como dizia a música. Costas largas, braços fortes, olhos verdes. Muito homem para pouco tempo. Convidou-me para ir pra Parati com ele direto da balada. Sonolento, cochilava em meu colo enquanto os semáforos de São Paulo estavam vermelhos. No som, Mutantes. No meu colo, ele. Na minha mente, o sexo.

Tudo isso veio à tona, essas lembranças vieram até mim, bombardeando essa noite solitária de cama vazia, em que eu e meu travesseiro digladiaremos em sonhos sexuais e pele arrepiada de calor. O frio não existe. Só calor, quentura, voluptuosidade, volume, bombeamento sanguíneo, os dentes que mordem o canto do lábio inferior com um fechar de olhos demorado e um suspiro de sopro quente. As minhas mãos que passam pela nuca e minha cabeça raspada ardem. Querem puxar os cabelos – sejam meus, sejam de outrem. O corpo queima, vou tirando peça por peça de roupa e indo até meu quarto. O calor continua. Nu, olho para trás e vejo o rastro de peças jogadas ao chão e remeto a uma noite. Não uma, várias.

O sexo inesperado e inesperável, em que não houve tempo de se despir de modo civilizado. Aquele que começa antes do trancar da porta e percorre a sala, o corredor, derruba um quadro, esbarra em um abajur, enquanto mãos procuram um interruptor de luz e uma caixa de camisinhas. O sexo é a não civilização da raça humana. Como diz Woody Allen, sexo sujo é sexo bem feito.

E ali, olhando o caminho de roupas jogadas, eu estava limpo. Não tinha em mim o cheiro do sexo, o suor e saliva alheios impregnados nos meus poros transpirantes. Então, como a rotina dos minutos que sucedem aquele místico ato, tomei um banho. 
Gelado.
E me sentir limpo nunca foi tão entediante...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

domingo, 19 de outubro de 2008

O cinema nasceu na França e muitos sabem. Quando os irmãos Lumiére o criaram, em 1895, talvez não soubessem o rumo que ele tomaria daqui a cem anos. Se pudessem ver o caminho que, principalmente, o cinema francês tomou, com certeza, estariam orgulhosos.
Não sei se partirá daqui somente minha opinião, porém o cinema francês é, para esse reles mortal, o de melhor qualidade. Cinema feito com alma, com o amor de quem viu, desde bebê, esta arte dar os primeiros passos na Europa.
Quem nunca se impressionou com Viagem à Lua de Mélies, se emocionou com a delicadeza de Truffaut ou com a política dos filmes de Costa-Gavras? Ou perdeu-se nos enredos de Resnais, como Hiroshima, meu amor e O ano passado em Marienbad, sempre presentes nas listas de melhores filmes do século XX? Além do modo único e autoral de Godard que, na Nouvelle Vague, descobriu junto com outros jovens diretores a forma de transgressão e inovação do cinema europeu. Uma grande arma de protesto cultural.

Um cinema que lançou deuses e musas como Bardot, Delon, Deneuve e Moreau ou até mesmo a delicadíssima Audrey Tautou, como Amélie Poulain, em uma fábula moderna que se tornou cult e consta na lista de favoritos de 11 entre 10 amantes da Sétima Arte.
E como não se apaixonar pela cidade-luz no filme Paris, eu te amo ou amar o país que tem o melhor festival de cinema do mundo: Cannes e foi palco de grandes filmes (não necessariamente franceses), como Casablanca, Esqueça Paris e o casal de Antes do Pôr do Sol e Antes do Amanhecer, cujo (re)encontro acontece nas belas ruas da capital francesa.

Nos últimos anos o cinema francês tem lançado obras nos mais diversos gêneros. Em Canções de Amor, o diretor Christophe Honoré (Em Paris) embrenha no campo musical.
O gênero, subestimado, teve seu auge nos anos 40, 50 e 60 nos EUA e ensaiou um breve retorno nos anos 70 e 80, com filmes como Cabaret ou obras mais despretensiosas como Grease, Flashdance e Footloose. Retornou, a partir dos anos 90 com Evita e, nos anos 2000 em filmes como Moulin Rouge, Chicago, Across the Universe e o mais recente Mamma Mia!.

Em Canções de Amor, um triângulo amoroso entre Ismael (Louis Garrel, de Os sonhadores), Julie (Ludivine Sagnier, do aclamado Swimming Pool) e Alice (Clotilde Hesme, que já havia trabalhado com Garrel no belíssimo Amantes Constantes) é interrompido por uma tragédia. Ismael (um Garrel mais charmoso e carismático que seus outros filmes), que vive a perambular por Paris, conhece Erwann (o desconhecido Grégoire Leprince-Ringuet).
Buscando um novo sentido a sua vida para superar a tragédia e viver um novo amor, Ismael – e todo o elenco -, desfilam pelas ruas e apartamentos de uma Paris chuvosa e nublada, cantando seus dilemas, medos e alegrias.
As canções de amor, modernas e com o inconfundível estilo musical francês, fazem do filme um deleite para os olhos e ouvidos, com personagens carismáticos e uma direção segura e delicada de Honoré, que dirigiu Em Paris, também com Garrel. Para quem assiste, é possível acreditar no amor que emerge da tela em olhares, toques e músicas. Seja o amor presente, ausente ou idealizado, o filme faz uma bela homenagem àqueles filmes em que as pessoas “começam a cantar no meio de uma conversa” e ainda criticados por uma parcela daqueles que lotam as salas de cinema.
Em uma cidade apaixonante - e apaixonada - que encontra em seus personagens a busca, dúvidas, dores e alegrias do amor, Paris dá o abrigo.
Uma pequena obra-prima, cativante, e que tem tudo para tornar-se um dos preferidos daqueles que ainda acreditam no amor e nos musicais. Afinal, como li uma vez (infelizmente, não lembro o autor da frase), o problema do amor é que não conseguimos falar dele sem citar velhas canções.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

mau humor passageiro

O sexo só fode a vida e o amor é tão bom que é uma droga.

Dia nublados me deixam pessimista. haha

Que saia o Sol, então.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

até hj ninguém mais soube discutir clarice comigo
e foi a última frase que ele me disse antes de eu entrar no ônibus naquele dia 07 do ano passsado
eu subindo a escadinha pra entrar

ele me chamou
eu virei e ele disse
"léo, volta.

ninguém sabe conversar de clarice comigo"

eu sorri um sorriso triste e entrei no ônibus

e assim acabou.

domingo, 13 de julho de 2008

Pare

Guarde tudo para você. Nâo me venha com maniqueísmos baratos ou frases feitas, que não serei seu ventríluquo.
Não me decifre, não tente me conhecer para me entender e achar que, me entendendo, você pode jogar comigo a partida do relacionamento eu-você-e-o-mundo.
Eu posso dar o xeque-mate quando você achar que você é quem manda.
No meu jogo de xadrez, você não é o rei que pode subir a torre e fazer a manobra final.
Eu te surpreendo constantemente e sou capaz de fazer o bispo negro mudar e o permitir que o peão branco dê a volta por cima.
A vida não é simples, tipo preto no branco, como um tabuleiro.
Viva além das tabelas, pise no riscado cinzento, derrube as peças e quebre as regras.
Viver é mais.A vida é apenas eu, você e o imprevisto
22 jan 2008

(Des)encontro

Coloco a chave na fechadura da porta do seu apartamento e ouço o som inconfundível do ato. Abro. Dentro, a meia-luz é interrompida pela minha sombra que se reflete na entrada encarpetada pela lâmpada forte que vem do corredor. Você não olha para trás. Está imóvel, recostado na janela de cortinas brancas transparentes. Fuma um cigarro.Sua calça jeans surrada lhe veste perfeitamente. Seu torso está nu e os seus pés descalços.Eu lhe olho por uns segundos que parecem demorar uma eternidade. Minha testa está franzida e, na boca, tenho um chiclete já sem gosto que insisto em não cuspir.Jogo a mochila mole, vazia, na primeira poltrona que encontro em sua sala e as chaves em cima da mesa de vidro. Você olha para o lado e vejo seu perfil, que contrasta com a iluminação do lado de fora do prédio. Lá fora, de onde acabei de vir, choveu. As pessoas pisavam em poças que, momentos atrás, refletiam luzes de Natal em árvores mortas e carros vivos cheio de pessoas semi-vivendo dentro deles. Antes de entrar no prédio, relembro do cheiro de chuva que me fez respirar fundo, umidificando minhas narinas e entrei no terceiro elevador. Justo aquele que não tinha mais nenhum alguém dentro. Sinto como uma contagem regressiva os andares indo do térreo até o décimo segundo andar. Doze longos segundos até você. É mais do que suficiente.Meu cabelos molhados caem no rosto em cachos assimétricos molhando seu carpete. Não enxergo as gotas formarem círculos no chão, mas sei que caem junto com lágrimas. Aqui de dentro a sensação é outra, completamente oposta da rua iluminada. A visão do andar alto me faz olhar baixo.As pessoas pequenas, buzinando e esperando por um atendimento de socorro da ambulância que percorre a noite quente. Suas sirenes ecoam em meus ouvidos enquanto fecho a porta e a luz do corredor vai formando um feixe até sumir por completo. Não tranco sua porta. Se precisar sair correndo dali em disparate, sinto que não poderei encontrar a chave a tempo; ela que está ali, ao lado do vaso de flores que você ia me enviar hoje pela manhã. O cartão ainda está preso entre os dezoito bogarins e me lembro do significado de tais flores. Bogarins significam amor puro e vivo que existe dentro de uma pessoa. Dou um sorriso tímido e tristonho. Passo as mãos pelos cabelos, digo um "hey" e você repete a mesma palavra de três letras sem olhar para trás.Vou ao banheiro, seco um pouco os cabelos e tiro a camisa. Quando volto para a sala, você já terminou seu cigarro. Aposto minhas calças ainda secas que você jogou a bituca na varanda do apartamento do lado, como sempre fez.Está virado de costas para a janela, mas ainda encostado no parapeito. Parece abatido e tem os olhos vermelhos. Com os braços cruzados e olhando para mim, me pergunta se estou bem, enquanto respondo que sim com as mãos nos bolsos.O silêncio não incomoda, porém parece que não sabemos mais nos comunicar pelo olhar ou pelo toque. Ando até o parapeito e me apóio na janela. Você encosta junto comigo enquanto eu coloco um cigarro na boca e me pede um. Tiro um do maço e entrego na sua mão, mas você olha para mim sorrindo e tira o que está na minha boca. Eu sorrio de volta e cutuco levemente seu abdome com o cotovelo. Encosta seu braço direito em mim e eu suspiro. Seus olhos mirando as vidas que acontecem lá embaixo na rua já não estão mais vermelhos. Meu rosto seco já não escorre lágrimas. Começamos a adivinhar vidas e personagens lá de cima. A mulher que passeava com o cachorro tornou-se uma solitária alcóolatra que comprava apetrechos sexuais para usar sozinha enquanto o pai dormia. O fortão que passava de carro conversível era um divorciado que queria aproveitar a vida depois de vinte e cinco anos de casado com a mesma mulher que não quis ter filhos. E a criança que chupava feliz um sorvete de mão dadas com a mãe era apenas uma criança feliz. Sem fingimentos, apenas feliz. Você termina o cigarro primeiro que eu e põe uma música. Bela. Calma. De voz linda e letra precisa. É nossa vida em voz e violão.Você me abraça por trás e meu cigarro no fim cai na sacada do apartamento de baixo. Me convida para dançar e eu também tiro meus tênis úmidos, sentindo o carpete quente e seus lábios ainda frios. Abraçados, ali no meio da sala, você me dá o melhor dos abraços.O que mais se encaixa, o que mais completa o espaço vazio entre mim e outra pessoa.Na janela, uma brisa morna de verão chuvoso entra e balança a fina cortina branca.Eu olho os bogarins, que parecem se mover com a brisa e sorrio. E você tranca a porta...